Estamos
na baia de Kuah, ilha de Langkawi na Malásia, mês de
julho, dia 10, ano de 2003. Época de chuvas, período
das monções do norte da Ásia.
Normalmente
durante esta época do ano, os veleiros de cruzeiro, navegam
pelo lado leste do Golfo da Tailândia / Malásia, quando as
condições de tempo são mais favoráveis.
Assim
os Guias Náuticos colocam; “ Inverno seco, verão
molhado, no oeste” !!!!!!!!
Nós,
neste ano, optamos por estar no lado oeste, ainda que molhado, face
a ser Langkawi porto livre, e portanto com as facilidades de sempre
o que nos oferta a oportunidade de equiparmos melhor o GUARDIAN,
que por sinal esta exultante com tal opção.
Estamos
aproveitando este tempo mais calmo e preparando nosso jogo de Cartas
e Guias Náuticos para o trecho; TAILANDIA / NICOBAR/ SRI LANKA / MALDIVIAS / MAR
VERMELHO e MAR MEDITERRANEO. Que deveremos estar demandando daqui
há uns 4 a 5 anos, e já vamos colhendo todas as informações.
São
cerca de 150 a 200 cartas e 10 Guias Náuticos, sendo estudados,
marcados e colocados na ordem de uso. Os detalhes de ancoragens
e cartas grandes, utilizamos nosso programa C-MAP e fazemos a navegação
no computador.
Durante
o dia estamos na cidade, fuçando e vendo as lojas náuticas.
Temos nossa base em terra no Restaurante THE PIER, de nossa estimada
amiga Mardiana, e o centro de encontro de todos os cruzeiristas
em Langkawi, Kuah.
Escotas
novas, algumas ferragens, capas diversas, lâmpadas especiais
com célula fotoelétrica, reparo e revisão no
MR. Perkins, nosso motor central, que já vai completando
3 mil horas de uso, isto em mais de 30 anos.
Cerca de 100 veleiros se encontram ancorados na baia de Kuah, nesta
temporada de chuvas.
São
02:30 h, o vento começa a apertar, a chuva da madrugada se
anuncia para assinar o ponto, hoje vem com tudo, muitos relâmpagos
cortando o céu. Nos lembramos de nosso irmão Hugo
Luiz e das histórias de para-raios.
Como
sempre vamos checar tudo, internamente se as gaiutas estão
devidamente fechadas e externamente se há alguma coisa solta
capaz de o vento levar.
O
GUARDIAN de camisola, todo coberto com seus toldos protegendo o
máximo possível da água doce. As velas escotas
e similares tudo guardado em local seco, técnica que utilizamos
há 7 anos que nos trazem as coisas em perfeito estado.
Agora
começam as marolas maiores, já medimos a velocidade
do vento, são 40 nós, com picos de 50 nós nas rajadas. O
GUARDIAN, balança muito!!!!!!!!!!!
O
fundo da ancoragem é de lama, porém muito fofa, e não
raro, alguns veleiros desgarram, principalmente os catamarans, com
suas grandes áreas.
Sobre
catamarans é até gozado, há os intransigentes que
acreditam piamente ser o melhor veleiro do mundo, o que nos causa
muita espécie, pois são caríssimos, nas Marinas
pagam mais caro a vaga, nos estaleiros acontece o mesmo e 99% dos
veleiros de cruzeiro são monocasco, e ainda desgarram facilmente,
não vemos nenhuma vantagem para os melhores veleiros do mundo!!!!!!!!
O
segredo desta ancoragem, com a profundidade media de 6 metros, é
dar-se 30 metros de corrente da ancora, e a cerca de 10 metros desta,
colocar um peso, o nosso tem 4 kg. Com tal técnica nossa
ancora CQR, de 30 Kg, é nossa segurança, não
desgarra de forma alguma. O pequeno peso tende sempre a manter a
corrente enterrada na lama evitando que a ancora tenha seu cepo
levantado, e por conseguinte possa desgarrar.
Já
são 03:00 h, o vento esta apertando ainda mais, agora com
ele vem a chuva. Se por um lado todo o conjunto climático
nos traz apreensão, por outro lado a chuva refresca, tomamos
um salutar e gostoso banho e ainda coletamos água para nossos
tanques, que por sinal se encontram lotados.
De
todas as noites que estivemos na baia de Kuah, inegavelmente esta
foi a mais tensa.
A
cidade já esta totalmente envolta pela chuva, não
se vê mais nada e os veleiros ancorados todos com suas luzes
acesas para poder ver aqueles que desgarram. O GUARDIAN continua
firme.
A
chuva agora é intensa, copiosa, e o vento começa a
cair e o mar a se tornar mais chato. É o ciclo natural das
tempestades tropicais. Inicialmente os relâmpagos, raios e
trovões, seguido de fortes ventos, precedendo a chuva forte
que acalma tudo e depois com seu diminuir vem a calmaria.
Inegavelmente, a tempestade desta noite foi muito forte, chegamos
a ter 70 n'ss de vento, nas rajadas, por cerca de 20 minutos.
Pela
manhã na cidade podemos ter uma idéia dos estragos, folhas
de coqueiros para todos os lados, folhas de zinco das construções
e muita sujeira nas ruas, sendo tudo imediatamente limpo.
Nas
reportagens da TV, mostram que a ilha de Langkawi foi bem castigada.
Porém, este é o tempo de chuvas e ventos, é o verão
do lado oeste, as monções do norte da Ásia
vem com tudo e ditam suas regras.
Nós
do GUARDIAN, vamos convivendo com tais situações e
adquirindo mais experiência que nos será sempre útil
para o futuro. No mar e em cruzeiro a vela é sempre o eterno
aprender.
A
calmaria agora é plena, com ela chega o sono, já são
04:30 h e da cabine do GUARDIAN se ouve, Zzzzzzzzzzzz!!!!!!!!!!!!!!
João
Sombra
Langkawi, Malásia
Agosto de 2003